sexta-feira, 9 de outubro de 2009

MIKAEL- PARTE 1... * Por André Cozta

Andando pelo centro do Rio de Janeiro, Mikael percebeu a beleza daquelas construções. Na Avenida Rio Branco, próximo à Cinelândia, parou e ficou observando a Biblioteca Nacional, o Teatro Municipal, a Câmara de Vereadores e o Cine Odeon.
Pensou:
"- Por que estes prédios, tão belos, que carregam em si a beleza e a história do Rio e do Brasil, são tão mal conservados? Por que fazemos tão pouco caso da nossa própria história, da nossa própria identidade?"
Andou mais um pouco e, ao atravessar a Rua Evaristo da Veiga e chegar à Lapa, visualizou os Arcos. Parou, por alguns instantes, ficou ali, na esquina daquela rua, olhando para aquele monumento, aquele cartão postal e pensou:
" - Acho que o Brasil tem vergonha de si próprio. O tratamento que é dado a estas construções históricas, o tratamento que damos ao centro da cidade e à Lapa, é o tratamento que sempre demos ao nosso povo. Se discriminamos nossos próprios irmãos, por conta da cor da sua pele ou até mesmo pela sua região de origem, por que cuidaremos do nosso patrímônio? Talvez, seja mais fácil fugir... fugir de nós mesmos."
Voltou a caminhar em direção aos Arcos.
A tarde caiu, a noite chegou. Havia sido um dia nublado e de frio, um frio gostoso para Mikael, mas, não tão gostoso assim para os padrões cariocas. Mikael nasceu no Brasil, no Rio de Janeiro, mas, foi criado em Paris por sua mãe, uma francesa. Foi para lá aos três anos de idade, após a morte de seu pai, um jogador de futebol, assassinado em circuntâncias estranhas na Mangueira. Desesperada e desiludida, sua mãe decidiu voltar à sua Terra Natal e levou consigo seu único filho, a lembrança viva dos anos maravilhosos que passou no Brasil. Mesmo assim, fez questão de aproximar Mikael de seu país.
Quando o menino completou 7 anos, contratou uma professora particular de Língua Portuguesa. Quando ele completou 13 anos, fez questão de dar de presente ao filho a primeira visita à sua Terra Natal. Andava com o menino pela mão, mostrando todas as belezas, todos os recantos da Cidade Maravilhosa
Aos 20,Mikael veio sozinho ao Rio de Janeiro. E, aos 27 anos de idade, após a morte de sua mãe na França, decidiu vir morar na sua cidade natal. Já estava com 35 anos e, a esta altura da vida, sentia como se sempre tivesse morado na cidade em que nasceu. Era chamado de gringo por muitos, não perdia o sotaque francês, mas, para ele, tudo isto era irrelevante, pois, ele era carioca, era brasileiro. E gostava, orgulhava-se disso.
Continuou andando por aquele pedaço da Lapa, em direção aos Arcos, olhou para o céu, viu nuvens. Provavelmente, choveria logo em seguida. E pensou: "- Vou para casa, antes que comece a chover."
Dirigiu-se à esquina da Rua Gomes Freire com a Rua do Riachuelo a fim de pegar uma kombi e recolher-se em seu apartamento, em Santa Tereza. Porém, quando estava bem próximo aos Arcos, olhou para o bondinho que por ali passava. Repentinamente, surgiu de trás dos Arcos um homem... um homem com asas, um homem negro, forte que passou pelo Arcos voando e sumiu.
Desde então, não conseguiu parar de ver aquela imagem em sua frente.
Chegou em casa, tomou um banho, fez uma rápida refeição e foi para seu quarto. Deitou-se, ligou a televisão, mas, não conseguiu concentrar-se. Desligou a tv, deitou-se e tentou dormir... o que não demorou muito a acontecer.
Rapidamente sonhou. No sonho, estava em uma praia linda, paradisíaca, como nunca vira antes. Nesta praia, a água era calma. Atrás das dunas, uma pequena floresta. Em um determinado recanto da praia, uma falésia enorme. O sol brilhava como nunca. Continuou ali, olhando para o mar e, de repente, viu uma sereia ao longe, em alto mar sair da água e rapidamente mergulhar novamente. Olhou para a falésia e viu... o anjo negro que havia visto nos Arcos da Lapa, em pé, com suas asas eretas e reluzentemente brancas, com uma espada na mão direita e um machado de duas faces na mão esquerda. Nâo conseguia parar de olhar para o anjo. O anjo fixava, mesmo à distância, seu olhar no fundo dos olhos de Mikael. Isto, fez com que ele sentisse-se como uma criança, como um bebê.
Acordou assustado, no meio da noite, com a garganta seca. Foi à cozinha, bebeu água, voltou para a cama. Ficou pensativo, não sabia o que estava acontecendo. Naquela noite não conseguiu mais dormir.

Continua...

Um comentário: