Zezinho era zeloso por demais com suas obrigações
enquanto médium de Umbanda e também com os graus de Magia Divina nos quais era
iniciado.
Procurava sempre contribuir da melhor forma com o
terreiro onde desenvolvia, trabalhava e cumpria sua missão mediúnica. Em seus
atendimentos às pessoas na Magia Divina, tanto nos trabalhos neste sentido que
eram realizados no terreiro, quanto em atendimentos particulares, seguia esta
mesma linha de raciocínio e atitude.
Porém, nos últimos tempos, andava “encucado” com algumas
coisas que não conseguia compreender. Não conseguia entender por que, em alguns
casos, o auxílio caritativo religioso ou magístico não alcançava o pleno
objetivo por ele traçado naquele atendimento.
E isso já o incomodava por demais.
Certa noite, seu Mestre de Magia levou-o para um passeio
esclarecedor.
E, num “sonho”, viu-se
em um campo muito florido, onde caminhava ao lado do seu Mestre, rumo à uma
mata belíssima, onde as folhas mostravam aos seus olhos um verde inigualável,
como nunca visto por ele no plano material. Era um verde-luz emanado por
aqueles vegetais. As flores, à sua volta, transmitiam um odor que entrava por
suas narinas como um “cheiro indefinível” e saíam por sua boca como um doce
néctar divino.
Por um instante fechou os olhos, a fim de absorver todas
aquelas irradiações divinas. Quando os abriu novamente, seu Mestre lhe falou:
- Tudo o que está experimentando aqui, nada mais é do que
a manifestação do Criador através da Sua Criação. Esta beleza que encanta seus
olhos, o inebria, este odor que pode sentir e este doce néctar que pode provar,
só consegue fazer aqui, neste plano mais elevado da vida humana, por estar
momentaneamente livre da carne. Porém, lá no plano material, onde vive, ainda
assim, se despir-se de certos sentimentos antagônicos a esta sensação que aqui
pode provar, de algum modo, conseguirá ter estas maravilhas que aqui
experimenta. Basta voltar-se para Deus, através da Sua manifestação mias bela,
que é a Natureza ao seu redor.
Zezinho ouviu aquilo tudo com calma e atenção e, como um
mago e médium dedicado, procurou absorver aqueles ensinamentos passados por seu
Mestre.
Caminharam um pouco mais e, rapidamente, adentraram a
mata. Seu Mestre tomou a frente, fazendo as devidas apresentações ao Guardião
do Local. E, logo em seguida,
encontraram uma Cabocla que os aguardava de braços abertos e com um largo
sorriso estampando seu rosto.
Aquela Cabocla, de longos cabelos negros, carregava às
costas uma bolsa contendo 5 flechas, um arco atravessando o peito desnudo, uma
machada de pedra em sua cintura, ao lado direito. Seu corpo era protegido
apenas por um “pedaço de pano” verde entre a cintura e as coxas.
Ela abraçou demoradamente a cada um deles.
Em seguida, caminharam mais alguns metros à frente,
conduzidos por ela, chegando à uma cachoeira.
Aqui, não citaremos os nomes da Cabocla e do Mestre de
Zezinho, para que não desviemos a atenção do objetivo principal deste relato, que
é de esclarecimento. Até por que este tipo de encontro “descortinador” acontece
comumente e frequentemente entre Mestres, Guias Espirituais e tutelados
encarnados.
A Cabocla e o Mestre ajoelharam-se à frente da cachoeira,
saudando os Sagrados Orixás daquele santuário natural. E Zezinho seguia fidedignamente todos os seus
movimentos.
Após as orações, a Cabocla, sempre sorridente, voltou-se
para Zezinho e falou:
- É uma honra tê-lo aqui, meu filho! Tenho percebido o
quanto é zeloso para com seu trabalho, às vezes cioso demais, um tanto
ciumento, mas, acima de tudo, um médium e um mago dedicado, um ser humano que
busca sempre a trilha correta na sua senda evolutiva. E foi por isso que o seu
Mestre de Magia resolveu trazê-lo aqui, mediante os Senhores do Amor e do
Conhecimento (a Divina Mãe Oxum e o Divino Pai Oxossi), para que você saia
daqui sabendo, finalmente, as respostas dos questionamentos que tanto lhe
intrigam neste momento.
O Mestre de Magia, em seguida, falou;
- Você tem estado
muito ansioso por conta de trabalhos magísticos e até religiosos que não
alcançam o resultado que você gostaria. Primeiramente, é necessário que você
entenda que, no caso da religião umbandista, você é um mediador entre os dois
planos (espiritual e material) ,permitindo que os agentes da Lei Maior que
vivem no plano espiritual atuem em benefício daqueles que vivem no plano
material. E, como agentes da Lei, em hipótese alguma, atuarão contra ela ou
contradizendo-a. Assim como você, em seus trabalhos de Magia Divina, orientado
por mim, é também um agente encarnado da Lei de Deus. Então, não agirã ou atuará
contra a Lei.
Zezinho, intrigado, perguntou:
- Mas, em algum momento, nos meus trabalhos de Magia
Divina ou no trabalho mediúnico de Umbanda, agi contra a Lei?
A Cabocla, imediatamente, respondeu:
- Graças ao seu esclarecimento e todo amparo Divino e
espiritual que possui, meu filho, você nunca fez isto! Mas, saiba que está
aqui neste momento para compreender melhor isso tudo. Por que, em alguns casos,
o carma das pessoas não permite que você
solucione seus problemas.
Zezinho olhava-a com curiosidade, típica de seu modo
expansivo de ser. Era um ser humano irradiado pelo Conhecimento, um filho do
Sagrado Pai Oxossi.
Ela prosseguiu falando;
- Meu filho, o carma é um recurso divino que permite ao
ser humano corrigir, por si só, seus
erros. Entenda: Deus, nosso Pai Criador, deseja que todos nós sejamos
independentes, pois, só assim realmente evoluiremos, ascenderemos e
retornaremos à Ele manifestando-O naturalmente. Por isso, deu a nós, humanos, o
livre arbítrio. Com ele, podemos escolher o melhor caminho para seguirmos em
nossas jornadas rumo ao único objetivo que todos temos intimamente (mesmo que
adormecido em alguns casos), que é o de retornar à morada do Pai. Quando, usando de nosso livre arbítrio,
escolhemos caminhos floridos como o que o trouxe até aqui, tudo se torna muito
simples, meu filho! Mas, quando a senda escolhida é “lamacenta”, aí, então,
cada passo demora uma eternidade. Afinal, caminhar na lama, nós todos sabemos,
é uma tarefa muito árdua, não é mesmo?
Zezinho sacudiu a cabeça afirmativamente, com braços
cruzados e mão direita ao queixo, manteve-se atento aos ensinamentos daquela
Mestra da Luz.
- E você precisa
saber (e saberá assim que “acordar”) que este nosso encontro hoje está
ocorrendo para esclarecê-lo neste sentido, para que suas dúvidas e
questionamentos não afetem seu trabalhos magísticos e religiosos, que têm ocorrido
tão bem e vistos positivamente pelos Sagrados Orixás.
O Mestre tomou a palavra;
- Então, meu caro amigo, saiba que muitas vezes, surge em
seu caminho, alguém ansiando por soluções para seus problemas que são, na
verdade, questões cármicas e que só poderão ser resolvidas com a reforma íntima
daquela pessoa. Com humildade, voltando-se para o seu interior, reconhecendo-se
como um ser em evolução, por demais devedor. Possuidor de débitos contraídos e
acumulados por ela mesma ao longo dos tempos.
A Cabocla, sorrindo, falou:
- Seria muito simples, após a plantação de tantas
sementes daninhas ao longo dos séculos, resolver tudo com um simples trabalho
religioso ou de magia, concorda, meu filho?
- Concordo, sim senhora!
O Mestre retomou a palavra:
- Então, a partir de agora, com esta consciência, saiba
que a melhor das magias e a maior das caridades é sempre o diálogo franco e
aberto com aquele irmão que procurá-lo pedindo auxílio. Quando perceber que se trata
de uma questão cármica, trate de esclarecer quem a você procurou. E isto não
impede que aplique uma magia ou trabalhe religiosamente para a sua purificação
e abertura do seu mental para esta realidade. Mas, sempre deixe tudo isto muito
claro!
- Assim farei, meu senhor e minha senhora!
A Cabocla falou:
- Nada impede também, meu filho, que em algum caso
específico, lhe seja encaminhada pela Lei, uma pessoa que deva ter ali, através
do seu trabalho, seu carma esgotado. Mas, num caso como este, não será você,
seu trabalho religioso ou magístico que estará esgotando tal carma. Você, com
seu trabalho, estará sendo usado como instrumento apenas para esgotar o carma
de uma pessoa que se reformou intimamente, conscientizou-se e optou por mudar
seu caminho. Compreende-me?
- Perfeitamente, minha senhora!
Sorrindo, o Mestre falou:
- Então, já ciente e esclarecido, pode voltar ao seu “mundo” e trabalhar de uma
forma mais intensa na Magia Divina e na Umbanda Sagrada.
Zezinho acordou-se naquela manhã, sorridente, certo de
que o carma e o livre arbítrio são instrumentos da Lei de Deus, usados em nosso
benefício, como garantias divinas para a nossa evolução.
E que os esclarecimentos a ele dados nesta viagem astral,
sirvam para que você reflita bastante, pois este é o nosso objetivo nesta estória.