sábado, 21 de dezembro de 2013

A Lei, O Lixo e A Consciência- Por André Cozta



Nos últimos dias, tenho acompanhado algumas discussões acerca da “Lei do Axé”, aprovada, aqui no Rio, pelo prefeito Eduardo Paes e de autoria do vereador Átila Nunes.
É importante frisar que nós,umbandistas e cultuadores dos Orixás sob outras denominações religiosas, devemos sim encarar esta nova lei como uma vitória.
Por que, o preconceito que ronda nossos rituais por toda a sociedade brasileira, acua muitos dos praticantes dos cultos afro-brasileiros e da Umbanda, fazendo, muitas vezes, com que nos sintamos culpados.
Ocorre que (usarei o Rio de Janeiro, cidade onde vivo, como exemplo), vários eventos acontecem na orla marítima, onde aquele pedaço da cidade torna-se um verdadeiro lixão (eventos de igrejas pentecostais, inclusive). E não vejo nenhum megafone denunciando estas “barbaridades”, mas, quando se trata de um evento como a homenagem à Mãe Iemanjá, tradicional em todo o final de ano em Copacabana, ou de qualquer oferta à beira mar, flor jogada ao mar, ou, trabalho em encruzilhadas, aí sim, setores da nossa sociedade que fazem reviver pensamentos reacionários de quatro ou cinco décadas atrás, tomam força, engrandecendo-se, agigantando-se e conseguindo, muitas vezes, vitórias importantes junto a setores políticos e ao poder público.
Se, são cidadãos aqueles que seguem as filosofias religiosas apregoadas pelas igrejas cristãs, também são cidadãos, pagadores de impostos, neste país, os umbandistas, os candomblecistas, os batuqueiros, os catimbozeiros, juremeiros e tantos outros praticantes de religiões naturais (que cultuam Deus através da Natureza) tão discriminados, ainda, em pleno Século XXI.
Que todos nós façamos campanhas eloqüentes contra o ato de se jogar papel ao chão, de se produzir lixo irresponsável e de modo inconsequente pelas vias públicas das cidades do nosso país. Isto sim é lixo!
Importante que, nesta lei municipal, aqui na capital fluminense, os elementos ritualísticos usados nas oferendas e agrados à guias espirituais e Orixás, não sejam considerados lixo.
E é a partir daí que pretendo firmar minha linha de raciocínio.
Tudo o que escrevi anteriormente, é válido, e penso que você que lê este texto, comigo concorda.
Porém, muito além do amparo legal, devemos trabalhar nossa consciência coletiva enquanto praticantes de religiões naturais. Afinal, é a partir da Natureza que encontramos nossa conexão com o que é Divino.
Arriar uma oferenda à beira mar, lagoa, cachoeira, em uma mata, em campo aberto, pedreira, bambuzal, campo santo ou encruzilhada, é um ato sagrado, de reverência e respeito para com os Poderes Manifestados do nosso Pai Criador, por intermédio da Natureza Mãe.
Este é um ponto de conexão, tenho certeza, no modo de pensar de todos nós, cultuadores dos Orixás.
Se, é este um ato sagrado, de reverência e de respeito, então, nossa consciência pede que tenhamos cuidado e capricho para com o trabalho religioso (que como todo trabalho, em qualquer religião, é muito sério!) tendo todo o cuidado possível para com o que realizaremos.
Adentrar um ponto de forças natural, um sítio divino, é adentrar na casa do Pai e da Mãe. Se, você é um filhos relapso, desleixado, desligado, sujará tudo, estragará objetos e dará trabalho desnecessário aos seus Pais. Mas, se você é um filho cuidadoso, meticuloso, com capricho cuidará de tudo e adentrará à casa deles com o máximo de respeito e carinho.
Tudo isto eu escrevi, para dizer que, se temos o amparo da Lei, aqui no Rio, não considerando o material utilizado nas oferendas como lixo, então, nossa responsabilidade, a partir de agora, aumenta em cem por cento.
Sabe por quê?
Exatamente, por que a Lei já determinou que não é lixo. E não seremos nós que o transformaremos nisso, ok?
Teremos, a partir de agora, cuidados redobrados. Arriaremos nossas oferendas, ofertas, agrados, trabalhos e, amparados por nossos orientadores espirituais que, invariavelmente nos acompanham nestes momentos, saberemos o tempo necessário para que o “axé” seja retirado dos elementos e nós possamos, com o mesmo amor, reverência e respeito que arriamos, recolher todo o material, encaminhando-o a um ponto de coleta de lixo.
Isto sim, caríssimos irmãos e irmãs, é cultuar o Divino através da Natureza, com consciência, ecológica e de equilíbrio.
Portanto, já sabemos que nosso ato de cultuar ou praticar nossa fé (sempre soubemos) não se faz com lixo. O município (ao menos aqui no Rio), também já sabe. Então, coloquemos em ação nossa consciência, de quem ama a Natureza e ama a Deus, tratando seus sítios naturais com amor;
Um abraço fraterno à todos!

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