sábado, 21 de novembro de 2009

CONTRA OS ATAQUES RELIGIOSOS NO PARANÁ

GAZETA DO POVO- Curitiba- 20/11/09

Representantes de religiões afro-brasileiras pretendem mapear as casas de umbanda e candomblé no Paraná e combater a discriminação, que impede muitos praticantes de expor suas crenças. Hoje, Dia Nacional da Consciência Negra e data da morte do líder negro Zumbi dos Palmares, será lançado o Fórum Paranaense de Religiões de Matriz Africana (FPRMA), com evento às 14 horas, no Instituto Edusol, em Curitiba. O objetivo do fórum é ampliar o debate sobre medidas que diminuam o preconceito contra os cultos de origem africana. Antes do lançamento, seguidores das religiões afro-brasileiras farão uma caminhada da Boca Maldita até a sede do instituto, às 9h30.

De acordo com o coordenador do fórum, Rômulo Barroso Miranda, o ogã Rômulo de Osaguian, seguidor do candomblé, as religiões afro-brasileiras ainda hoje são muito estigmatizadas. “Muitas pessoas ainda têm a mania de demonizar os cultos afro-brasileiros. Mas nem existe demônio na nossa religião”, afirma Miranda. A consequência disso é a intolerância religiosa. “É comum as casas serem apedrejadas porque algumas pessoas não aceitam nossos ritos, como o sacrifício de animais”, reforça o coordenador do FPRMA.

Governo regulariza 30 quilombos

Agência Estado

Sorocaba (SP) - Depois de uma espera de mais de 20 anos, a aldeia negra do Cafundó, em Salto de Pirapora, a 125 km de São Paulo, será reconhecida oficialmente como território quilombola. As 18 famílias – pouco mais de 60 pessoas – preservam a cupópia, um dialeto construído a partir de línguas africanas, usado na comunicação interna e incompreensível para quem chega de fora. O Cafundó está entre os 30 territórios quilombolas do país que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva regularizará por decreto hoje, em Salvador, como parte das comemorações do Dia da Consciência Negra.

Serão beneficiadas 3.818 famílias em 14 estados, com a regularização de 342 mil hectares. Em São Paulo, além do Cafundó, serão contempladas as 27 famílias do quilombo de Brotas, no município de Itatiba – as duas áreas somam 232,2 hectares. Pelo ato, o Estado reconhece o direito de permanência das comunidades negras em seu território historicamente ocupado, como prevê a Constituição de 1988.

No Cafundó, os descendentes de escravos herdaram uma fazenda de 527 hectares, mas tiveram as terras griladas. Hoje, ocupam 17 hectares. “A terra é pouca, não dá para tirar o sustento”, reclama o líder Marcos Norberto de Almeida, 48 anos. Desde os anos 80 do século passado eles lutam para reaver o território. Este ano, ocuparam uma fazenda vizinha para protestar contra a morosidade do processo. Os quilombolas participaram ontem de um desfile em Sorocaba – o Dia da Consciência Negra não é feriado em Salto de Pirapora.

Estes são os primeiros decretos de áreas quilombolas que envolvem desapropriações (áreas que não são em terras públicas) no país. A partir daí é possível dar início ao processo de avaliação dos imóveis que, após a indenização aos proprietários, permitirá que as famílias utilizem o território e obtenham o título definitivo de suas terras. O título é coletivo, mas dá acesso às políticas públicas básicas, como o Bolsa Família, Programa Nacional de Fortale­cimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Desde 2003, quando o Incra assumiu a identificação, reconhecimento e demarcação dos remanescentes de quilombos, foram expedidos 59 títulos regularizando 53 territórios habitados por 4.133 famílias. Atualmente, existem 851 processos visando à identificação de 1,3 milhão de hectares, em benefício de 11.656 famílias. Só no estado de São Paulo são 45 processos em andamento. Entre os 30 novos quilombos, o mais populoso é o de Concei­ção das Crioulas, em Salgueiro (PE), com 750 famílias, e a menor comunidade é a de Preto Fôrro (RJ), com apenas 12 famílias.

O FPRMA também pretende fazer um mapeamento das casas onde são celebrados ritos afro-brasileiros no Paraná. Segundo Miranda, justamente por causa do preconceito, muitos seguidores da religião preferem não se expor. “Queremos saber quem são e onde estão as pessoas que seguem as religiões de matriz africana no estado”, diz o ogã. Dado da Federação Paranaense de Cultos Afro-Brasi­leiros aponta a existência de 286 ca­­sas de umbanda e candomblé no Paraná. “Mas pelo receio que as pessoas têm de se expor, acreditamos que sejam muito mais”, explica Miranda.

Além do lançamento do fó­­rum, a comemoração da Semana Nacional da Consciência Negra também integra uma exposição que se encerra hoje e inclui arte africana, orixás e fotografias, entre outros objetos, na sede do Instituto Edusol (Rua José Bonifácio, 15, na Praça Tiradentes, ao lado da catedral).

Núcleo

Aproveitando a data, o Instituto Federal de Educação do Paraná (IFPR) assina hoje a criação do Núcleo de Estudos Afro-Brasi­­leiros. O diretor de Inclusão Social e Meio Ambiente do IFPR, Valter Roberto Schaffrath, explica que o núcleo terá a participação de toda a comunidade acadêmica, bem como de outros membros da sociedade.

Entre as atribuições do núcleo está a elaboração das regras para a aprovação dos estudantes por cotas raciais e sociais no primeiro processo seletivo do instituto, a ser feito em fevereiro. “Além de definir o método a ser utilizado nas cotas do processo seletivo, o núcleo também servirá para debater e combater o racismo na instituição e na sociedade”, aponta Schaffrath.

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