quinta-feira, 25 de junho de 2009


PESQUISA E MAPEAMENTO DE TERREIROS NO RIO DE JANEIRO
Por: Christine Keller*


Num domingo friorento de junho fui até o bairro de Miguel Couto, em Nova Iguaçu (estado do Rio de Janeiro), para conferir um evento que será referência para as religiões afro. Trata-se da apresentação pública da pesquisa de mapeamento das casas de religiões de matriz africana do Rio de Janeiro, que aconteceu na comunidade de Terreiro Ile Omiojuaro (Casa de Mãe Beata de Iyemoja). Valeu a pena encarar a distância e o frio. Essa é uma das muitas ações daquele Axé que trabalha para além da religião, procurando atender as demandas não apenas do entorno de Miguel Couto e do município de Nova Iguaçu, mas do povo afro-descendente em várias questões: luta contra o racismo e preconceito, contra a homofobia, contra a intolerância religiosa e em prol de ações públicas que garantam os direitos de nosso povo em todas as instâncias: respeito, acesso aos serviços públicos de qualidade (transporte, saúde, educação, cultura e por ai vai...), ações afirmativas, cuidados com o meio ambiente... Enfim. A lista de atividades e ações que o Ile Omiojuaro está envolvido direta ou indiretamente é enorme e falarei oportunamente sobre as mesmas.
Mas voltando à pesquisa e mapeamento dos terreiros do Rio de Janeiro, a mesma consistirá no cadastramento das casas de todas as tradições religiosas afro-brasileiras. É uma iniciativa de duas pessoas ligadas às religiões de matriz afro e alunos da PUC-Rio, com quem o trabalho será feito em parceria, através do Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente daquela universidade (Nirema). Pela Casa do Perdão, Templo Umbandista, Mãe Flávia, e pelo Ile Omiojuaro, Babá Adailton de Ogum, Babá Egbe do referido terreiro de Miguel Couto. Ambos acabaram de se formar em Ciências Sociais pela Puc-Rio.
A princípio, a verba que veio através da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR dará conta do trabalho no município do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense, e deverá estar concluída no final de 2010. Os coordenadores pretendem que a pesquisa e mapeamento, futuramente abranja não apenas todo o estado do Rio, mas o território nacional do Oiapoque ao Chuí.
As pesquisas serão feitas por pesquisadores selecionados e treinados, ligados às religiões de matriz afro, que ministrarão um questionário específico e criado por uma comissão para este fim. Os entrevistados serão pais e mães de santo, lideranças religiosas, ou pessoas designadas por eles (elas) para falarem pelos seus Iles. A coordenação, através de um Conselho Religioso, formado por quatorze lideranças representativas do Candomblé e da Umbanda, fez uma listagem de terreiros de matriz afro baseada em várias listas de entidades e federações e ainda deverão visitar casas indicadas pelos entrevistados, uma vez que a pesquisa pretende alcançar o maior número possível de pessoas e terreiros, independente de nação, raiz, tamanho ou estarem ou não filiadas às federações.
Será adotada uma metodologia de cartografia social, onde os entrevistados terão voz. O cadastramento será feito através da auto-identificação do pesquisado e o seu universo, sujeitos de fato e de direito. Desta forma, ao final da pesquisa, teremos dados concretos sobre o número real de casas, localização e informação das mesmas. Com isso, as religiões de matriz africana terão a visibilidade mais do que merecida e tantas vezes negada em meios censitários e na maior parte das mídias, já que quando aparecem é na maioria das vezes de forma deturpada e preconceituosa, muito diferente da realidade das mesmas. Desta forma, nosso povo poderá clamar por seus direitos negados e esquecidos pelos que estão no poder. Poderemos gritar e exigir as políticas públicas que nosso povo necessita e a que tem direito. Chega de invisibilidade, negação de direitos, discriminação e intolerância religiosa. Como diz Mãe Beata de Yemojá, não queremos que nos tolerem, queremos que NOS RESPEITEM!

"Christine Keller é jornalista, candomblecista e luta contra o racismo e todos os tipos de discriminação e também contra a intolerância religiosa que é praticada com as religiões de matrizes afro e ameríndia. No momento, trabalha na Comunicação do Grupo Cultural AfroReggae, está voltando a publicar o Blog Bate Tambor (que trabalha com as questões citadas acima), canta no Coral afro N’ Korin Olóòrun (Cânticos de Louvor aos Orixás) e faz um curso sobre diáspora africana na UERJ (Proafro/Universidade do Texas e Criola)."


Comunidades no Orkut:
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA/BASTA!:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=2875892

Mãe Beata de Yemanjá:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=3449229

Mãe Olga de Alaketu:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=5439385

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