quarta-feira, 27 de abril de 2011

MÃES DIVINAS & SANTAS... Por André Cozta


Analisando o sincretismo religioso no Brasil (afinal, não podemos negar a influência e importância na formação religiosa do povo brasileiro do Cristianismo, do Culto aos Orixás e da Pajelança), percebi que esta discussão tomou como caminho, ao longo do tempo, uma via de mão única.

Fala-se sempre que os Sagrados Orixás, cultuados de norte a sul neste país continental, foram sincretizados pelos escravos com santos católicos a fim de preservar sua identidade cultural religiosa devido à repressão por parte dos senhores de engenho e da sociedade da época como um todo.

Algumas vezes, fui questionado por católicos sobre a variedade de Orixás cultuados na Umbanda e no Candomblé. Especialmente, no que se refere às inúmeras qualidades de um mesmo Orixá. Uso como exemplo o Sagrado Pai Xangô. Podemos citar Xangô Aganju, Xangô Airá, dentro do Candomblé ou Xangô 7 Pedreiras, Xangô das Almas, entre outros, dentro da Umbanda.

Como resposta a esta pergunta, sempre coloco a seguinte questão interrogativa: "- E como você explica a variedade de “Nossas Senhoras” cultuadas na Igreja Católica?”

Afinal, caro(a) leitor(a), todos sabemos que o Mestre Jesus, quando encarnado, teve apenas uma mãe, a Senhora Maria de Nazaré.

Então, se a Virgem Maria ou Nossa Senhora, possui tantas “qualidades” quanto, por exemplo, a Sagrada Mãe Yemanjá, a Sagrada Mãe Oxum ou a Sagrada Mãe Yansã, pergunto: onde iniciou-se o sincretismo? Terá sido pelos escravos em defesa da sobrevivência da sua religiosidade? Ou pela Igreja Católica, conhecedora dos mistérios divinos, das divindades/qualidades de Deus, neste caso, no seu lado feminino?

Sim, porque Olorun (Deus), nosso Pai Maior e Divino Criador, criou divindades (os Sagrados Orixás), como poderes divinos ou qualidades suas manifestadas nos 7 sentidos da vida: fé, amor, conhecimento, justiça, lei, evolução e geração.

E a partir deste exemplo de Nossa Senhora ou das “Nossas Senhoras”, podemos contrapor à teoria de que o sincretismo surgiu com os escravos em defesa da permanência da sua religião, a teoria de que, na verdade, foi iniciado pela Igreja Católica, “encapando” com suas imagens santas alguns dos Mistérios do nosso Divino Criador, conforme seu interesse.

Pegue uma caneta e um papel, anote e veja que para cada Mãe Divina (as Sagradas Orixás), há uma “qualidade” de outra Mãe Divina (Maria, a Mãe do Mestre Jesus Cristo) ou há alguma santa católica manifestando o sincretismo.

Para a Sagrada Mãe Yemanjá temos Nossa Senhora dos Navegantes, para a Sagrada Mãe Oxum temos Nossa Senhora da Conceição, para a Sagrada Mãe Yansã temos Santa Bárbara, para a Sagrada Mãe Nanã Buruquê temos Nossa Senhora de Sant’Ana, para a Sagrada Mãe Logunã temos Santa Clara..

Ainda temos Santa Sara, cultuada pelos adeptos da cultura cigana, que veio do oriente como a Divindade Hindú Kali, chegou à Europa como Santa Sara de Kali, passando logo em seguida a ser chamada somente de Santa Sara.

Neste caso específico, a encontramos na Umbanda como a Sagrada Mãe Orixá Egunitá, que faz par com o Sagrado Pai Xangô no Trono da Justiça, sendo representada, assim como ele, pelo elemento fogo.

Este fenômeno sincrético da Divindade Kali com Santa Sara, aprofundaremos em um texto futuro, que falará sobre divindades negras além do panteão africano.

Então, se as Divinas Mães Orixás são qualidades manifestadas do Divino Criador Olorun, é lógico pensar que suas existências são anteriores ao nosso planeta.

Após esta análise, concluo que esta via de mão única deve, ao menos, a partir de agora, tornar-se uma via de mão dupla. Para que surja uma discussão, que é sempre salutar e descontrói as “verdades absolutas”. Estas sim, instrumentos históricos do autoritarismo e do totalitarismo.

E fica, para a sua reflexão, amigo(a) leitor(a), a seguinte pergunta: de onde vem o sincretismo religioso no Brasil?


SARAVÁ!!!!

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