sexta-feira, 13 de novembro de 2009

MIKAEL- Parte 3... * Por André Cozta


Mikael acordou em um lugar diferente, paradisíaco. Estava em uma cidade, uma cidade linda e enorme, no alto de uma montanha. Era a montanha mais alta que já havia visto, pois, ultrapassava as nuvens. Estranhava, porque sempre olhou para cima para ver as nuvens e, agora, pela primeira vez na vida, para vê-las, tinha de olhar para baixo.
O Anjo Negro estendeu-lhe a mão, ajudando-o a levantar-se. Ele (mal acreditando no que estava vendo e vivendo, pensando estar sonhando) coçou os olhos e perguntou:
- Onde estou? Que lugar é este? Quem é você?
- Eu, meu filho, sou quem você quiser que eu seja.
- Como assim?
- Eu sou aquele que orienta e guia você, desde antes de você nascer.
Gaguejando, Mikael perguntou:
- C-como assim?
- Você pode, Mikael, meu filho, chamar-me de seu Anjo de Guarda ou, se preferir, chamar-me de seu Orixá.
- Anjo de Guarda, minha mãe sempre me disse que eu tinha um, nunca acreditei, mas, Orixá... o que é isto?
- Meu filho, é fundamental agora, que você saiba que cuido de você, protejo você, mostro os caminhos. Está certo que nem sempre você os seguiu, mas, nem por isso eu o abandonei. Estarei sempre por perto, guiando-lhe.
- Estou começando a entender, mas, mesmo assim, quem é você? Qual o seu nome?
- Está bem, se isto é tão importante para você, Mikael, meu nome é Aganju, sou o Arcanjo Aganju. Chamam-me também de Xangô Aganju, pois, trabalho dentro da vibração deste Orixá.
Mikael ainda sentia-se um pouco confuso, mas, também sentia uma paz e uma segurança como nunca sentiu em outro momento em sua vida. Seu coração começou a apertar e, em seguida, foi tomado por uma alegria imensurável. Sentiu suas pernas amolecerem, seus ombros ficarem leves e, quase que involuntariamente ele ajoelhou-se, começou a chorar copiosamente, pôs a cabeça no chão, elevou as mãos por sobre sua cabeça e começou a falar palavras que saíram sem pensar:
- Kawo Kabiecile, Meu Pai!!!! Salve a sua força, Aganju, Meu Arcanjo Protetor!!!!
Aganju, com a mão direita, passou seu machado de duas faces sobre a cabeça de Mikael, estendeu-lhe a mão, ele levantou-se ainda enxugando lágrimas, olhou para o Arcanjo e disse:
- Meu Pai, como fui tolo durante toda a vida! Sempre achei que eu me bastava, que tudo que consegui era somente pela minha força. Agora, vejo que o Senhor foi fundamental em minha caminhada.
Olhando no fundo dos olhos de Mikael, o Arcanjo disse:
- Vamos passear pelo reino, meu filho, venha conhecer a minha morada... que também é sua.
E ambos saíram a passear por aquela cidade. O sol brilhava, um brilho muito mais intenso do que qualquer dia de sol visto por Mikael em Paris ou no Rio de Janeiro. E o mais curioso: o sol brilhava, mas não queimava. Mikael não suava, não sentia calor e nem frio. Continuaram a caminhar, Mikael não parava de olhar para a vegetação do lugar, nunca havia visto tanto verde... um verde intenso e vivo. Aproximaram-se de um castelo. Aganju, estendeu com a mão direita o machado sobre o peito de seu filho, que, sem perguntar ou falar qualquer coisa, entendeu e parou. Virou-se para Mikael e falou:
- Agora, meu filho, você vai conhecer o meu castelo. É daqui que eu, com a contribuição dos anjos e samaritanos que aqui labutam, trabalho para proteger e abrir caminhos para você e todos os seus irmãos.
- Sim, mas, quem são os meus irmãos?
- São muitos, meu filho, milhões que vivem na Terra sob minha proteção e minha tutela.
Mikael não falou nada, apenas olhou no fundo dos olhos de Aganju e percebeu que não precisava falar, que poderia comunicar-se através do olhar com seu Orixá.
E Aganju disse:
- Exatamente, meu filho, agora, aqui comigo, você pode entender tudo olhando nos meus olhos, pois, os olhos são o espelho da alma. Mas, quando não estiver comigo e não puder me olhar, você ouvirá o que tenho a dizer.
- E como farei isto?
Aganju sorriu e disse:
- Você saberá, na hora, você saberá. Agora vamos.
Aganju cruzou os braços sobre o peito, mantendo na mão direita o machado de duas faces e na mão esquerda sua espada de ouro e, instantaneamente, abriu-se a porta do castelo. A abertura da porta mostrou dois soldados que, do lado de dentro, esperavam a chegada do Rei. Os soldados, também Arcanjos, possuíam asas, brancas e reluzentes, porém, menores que as de Aganju.
- Venha, meu filho, entre na morada de seu Pai, que também é sua.
Adentraram o castelo. Mikael, perplexo, boquiaberto, pensou estar sonhando e que poderia acordar a qualquer momento.
- Você não está sonhando, meu filho. Está aqui comigo, por que chegou o dia da revelação.
- Revelação?
Aganju nada respondeu, continuou a caminhar e Mikael o seguiu. Aproximou-se de um trono, que estava sendo guardado por outros dois soldados arcanjos, sentou-se, colocou seu machado em um apoio ao lado direito e a espada em uma bainha ao lado esquerdo do trono. E começou a falar:
- Mikael, meu filho, você finalmente chegou aqui, por que precisa saber algumas coisas que não sabe sobre você mesmo.
Mikael nada falou, apenas sacodiu a cabeça, lenta, discretamente e afirmativamente. O Arcanjo prosseguiu:
- Sou o Arcanjo Aganju (ou Xangô Aganju, como muitos chamam, por que trabalho na vibração deste Orixá) e sou seu pai de cabeça. Eu cuido de você, desde muito antes de você nascer. Para falar a verdade, há várias encarnações. Posso ser considerado também o que, a grosso modo, as pessoas chamam de anjo de guarda. Você precisa saber, meu filho, que está chegando a hora de você cumprir sua missão nesta vida.
O Arcanjo olhou para o anjo-soldado que estava a seu lado direito e disse:
- Traga o amuleto preto e branco.
Imediatamente, o soldado trouxe o amuleto e entregou-o a Mikael. Aganju olhou para o anjo-soldado que estava a seu lado esquerdo, nada falou, o soldado retirou-se e voltou em poucos instantes com um amuleto vermelho e preto.
Mikael, segurando o amuleto preto e branco na mão direita e o vermelho e preto na mão esquerda, perguntou:
- Meu Pai, qual o significado destes amuletos? Para que servem? O que devo fazer com eles?
- Mikael, meu filho, você carregará estes amuletos consigo até o último instante desta sua encarnação. Ambos, serão a minha representação em sua vida. O que você carrega na mão direita, representar-me-á nos momentos em que você necessitar de esclarecimento, luz, harmonia, saúde, firmeza na cabeça e paz no coração. O que você carrega na mão esquerda, representar-me-á na abertura de seus caminhos para as questões materiais, para protegê-lo na rua, de todas as mazelas do mundo carnal e das baixas vibrações que rondam o plano em que você vive.
Mikael continuou olhando seu Pai atônito, curioso e apaixonado. Aganju prosseguiu:
- Meu filho Mikael, você não estudou arquitetura por acaso. Quando eu apareci para você sobrevoando os Arcos da Lapa, justamente no momento em que você pensava o que poderia ser feito para melhorar aquele lugar, foi um sinal. E, esta é a parte mais importante da revelação: você usará de seus conhecimentos para melhorar ambientes como aquele e tantos outros e, também, a vida de pessoas necessitadas. Com meu machado e minha espada, apoiado pelas vibrações dos amuletos que representar-me-ão em sua vida até o último instante, abrirei caminhos e você, a partir de hoje, será o arquiteto da justiça. Trabalhará, como bom filho de Xangô, filho de Aganju, buscando justiça para os necessitados, buscando uma vida melhor para os desfavorecidos.
- Mas, como farei isto, Meu Pai?
O Arcanjo Aganju sorriu e disse:
- Você saberá. Meu filho, agora, você vai voltar para seu lugar e, de lá, iniciará esta bela jornada cumprindo tudo o que lhe foi passado antes de encarnar. Não aceitarei recuos. Nâo esqueça que a justiça de Xangô é implacável.
De cabeça baixa, em reverência a seu Pai, Mikael disse:
- Sim, Senhor!
Aganju olhou para os soldados e disse:
- Levem-no embora.
Mikael acordou em sua cama, sentiu-se leve, como nunca antes, olhou para o lado direito do travesseiro e viu o amuleto preto e branco. Imediatamente, olhou para o lado esquerdo do travesseiro e viu o amuleto vermelho e preto. E pensou em voz alta:
- Meu Pai, o que será de mim a partir de agora?



Continua...

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