Zezinho prosseguia em sua caminhada no plano material da
vida humana esforçando-se para evoluir mais a cada dia.
Não abria mão do cumprimento da sua missão, ora como
médium umbandista, ora como Mago servidor da Criação através dos graus da Magia
Divina em que era ordenado.
E isso o nutria de uma satisfação inenarrável,
indescritível e indefinível.
Certo dia, pensava
em tudo que o cercava e percebeu que encontrava respostas e soluções para
questões aos quais julgava necessitarem de um certo “realinhamento” ou
“reajuste”.
Então, notou que estava se tornando um exímio julgador.
Tinha em si soluções para tudo e para todos. Nas conversas com seus irmãos no
terreiro e nas lidas da magia, possuía sempre uma resposta afiada, na ponta da
língua, para qualquer questão.
Vinha à tona ali, um médium e mago julgador, punidor e
executor.
Como uma de suas mais latentes virtudes (talvez a mais
latente de todas), era a observação (inclusive a auto-observação), começou a
perceber em si próprio que estava deixando-se tomar pela vaidade e que seu ego
começara a direcionar seus passos.
Preocupadíssimo, tratou de encaminhar-se a uma cachoeira,
ambiente ao qual sempre recorria para reenergizar-se.
Lá chegando, sentou-se à mesma pedra, como já era seu hábito naquele ponto de forças da Natureza. Pôs-se a
refletir.
Ali, sentando, pensando e se auto avaliando, passou a
perceber que sua paciência e tolerância para com seus irmãos, antes era bem
maior, e que estava se tornando um ser impaciente, intolerante e implacável nos
seus julgamentos.
Concluiu que, se
avançava a passos largos na compreensão das coisas de Deus e da Criação,
se os seus estudos o levavam à plagas mais distantes, muitas ainda não
imaginadas por alguns daqueles com os quais convivia, possuía esta outorga
divina justamente para que, sempre voltasse, estendesse as mãos aos
semelhantes, conduzindo todo aquele que se dispusesse de coração a conhecer
novos horizontes, ou seja, aqueles caminhos que nos conduzem às Divindades, que
nos levam de volta ao nosso caloroso, amável, “Colo Ancestral”.
Se assim era a Vontade Maior, não poderia ele, Zezinho,
acelerar o passo e seguir em frente sem olhar para trás, como um “envenenado” carro de Fórmula 1. Por que,
assim agindo, invariavelmente, em alguma curva, poderia encontrar um “trágico”
paralisador do seu equívoco.
Mergulhou naquelas águas límpidas e cheias de Amor.
Reenergizou-se na cachoeira. Ficou
naquele ambiente por horas incontáveis, saindo somente quando a noite
avizinhava-se.
Já em casa, naquela noite, foi à janela do seu quarto e
ficou fitando a Lua e as Estrelas.
Viu, naquele momento, o quão ele, Zezinho, era minúsculo em
meio ao Todo, porém, não menos fundamental para a Criação do que qualquer
estrela, satélite, planeta, dimensão, plano, ser ou criatura dela. Todos,
concluía, protagonizavam coletivamente um “filme” que mostrava belíssimas cenas
e que tornavam ainda mais bela a composição e evolução do Todo.
Pode compreender, a partir daquele instante que, quanto
mais aprendia, mais a aprender tinha. E que um grande erro cometido por ele,
até ali, era o de passar a enxergar o mundo a partir de si.
Passou, a partir de então, a ver-se no Todo, não mais
vendo-O a partir de si. E, respeitando as diferenças, caminhou mais leve e mais
sorridente.
Por isso, Zezinho, hoje, Mago e Médium Umbandista, recebe
a todos com um sincero sorriso no rosto, especialmente, àqueles que o procuram
com lágrimas nos olhos e mágoas no coração.
Zezinho destruiu o mundo que criava em seu íntimo, que o
fazia ver tudo a partir dos seus julgamentos e colocou-se dentro do mundo real,
onde é mais um filho do Criador que serve a Ele sem pesos no coração e na alma.