segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
domingo, 17 de janeiro de 2010
OS PECADOS DO HAITI
Publicado em 15 de Janeiro de 2010 por Eduardo Galeano
(tradução livre de Antonio Folquito Verona)
A democracia haitiana nasceu há muito pouco. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e enferma não recebeu nada, além de bofetadas. Estava ainda recém nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de terem colocado e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos pegaram e impuseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que havia tido a louca aspiração de querer um país menos injusto.
O voto e o veto
Para apagar as nódoas da participação norte-americana na ditadura carniceira do general Cedras, os infantes de marinha levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para retomar o governo, mas o proibiram exercer o poder. Seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, porém mais poder que Préval tem qualquer burocrata de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha sequer eleito com um voto apenas.
Mais que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum de seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, instrução aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou o contradizem ordenando-lhe: - Faça a lição! E como o governo haitiano nunca aprende que deve desmantelar os poucos serviços públicos que ainda permanecem, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores acabam sempre por reprová-lo.
O álibi demográfico
No final do ano passado quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Assim que chegaram, a miséria do povo os atingiu frontalmente. Então o embaixador de Alemanha lhes explicou, em Porto Príncipe, qual é o problema: - Este é um país demasiadamente povoado - disse-. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.
E riu. Os deputados se calaram. Essa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou as cifras. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, tanto quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado. Em sua passagem pelo Haiti, o deputado Wolf não apenas foi atingido pela miséria: também ficou deslumbrado pela capacidade de expressar a beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado… de artistas.
Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até a alguns anos, as potências ocidentais falaram bem mais claro.
A tradição racista
Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando alcançaram seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e revogar o artigo constitucional que proibia a venda de terras aos estrangeiros. Robert Lansing, então secretário de Estado, justificou a prolongada e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de se governar por si mesma, que possui “uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”. Um dos responsáveis pela invasão, William Philips, havia elaborado anteriormente a sagaz idéia: “Esse é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que tinham deixado os franceses”.
O Haiti havia sido a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com força de trabalho escrava. No espírito das leis, Montesquieu o havia explicado sem travas na língua: “O açúcar seria demasiado caro se não trabalhassem os escravos para sua produção. Esses escravos são negros desde os pés até a cabeça e têm o nariz tão esmagado que é quase impossível ter deles alguma pena. Resulta impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma e sobretudo uma alma boa num corpo inteiramente negro”.
Em troca, Deus havia colocado um chicote na mão do feitor. Os escravos não se distinguiam por sua vontade de trabalho. Os negros eram escravos por natureza e vadios também por natureza; e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir ao amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrasse o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: “Vagabundo, desocupado, negligente, indolente e de costumes dissolutos”. Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro “pode desenvolver certas habilidades humanas, como o papagaio que fala algumas palavras”.
A humilhação imperdoável
Em 1803, os negros do Haiti ocasionaram uma tremenda derrota às tropas de Napoleão Bonaparte e Europa não perdoou jamais essa humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes sua própria independência, porém conservava ainda meio milhão de escravos trabalhando nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era senhor de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.
A bandeira dos livres se içou sobre as ruínas. A terra haitiana havia sido devastada pele monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França. Uma terça parte da população havia caído em combate. Então, começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava dela, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.
O delito da dignidade
Nem mesmo Simon Bolívar, que soube ser tão valente, teve a coragem de assinar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar poderia ter reiniciado sua luta pela independência americana, quando já havia derrotado a Espanha, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano lhe havia entregado sete navios, muitas armas e soldados, com a única condição que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que ao Libertador não lhe passava pela cabeça. Bolívar cumpriu com esse compromisso, porém depois de sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvado. E quando convocou as nações americanas para a reunião do Panamá, não convidou o Haiti, mas sim a Inglaterra.
Os Estados Unidos reconheceram o Haiti depois de sessenta anos do final da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque possuem pouca distância entre o umbigo e o pênis. Naquele instante, o Haiti já estava nas mãos de carniceiras ditaduras militares, que destinavam os famélicos recursos do país para pagar a dívida com ex-metrópole: a Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, como modo de ver-se perdoado por ter cometido o delito da dignidade.
A história do assédio contra o Haiti, que em nossos dias tem dimensões de tragédia, é também una história do racismo na civilização ocidental.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
SARAVÁ!!!!
VAMOS ESTUDAR GEOGRAFIA?
Desde a semana passada, quando ocorreu o atentado à Seleção do Togo na Cabinda, tenho observado algo que escreverei aqui com muita tristeza. Vi em alguns programas de tv (esportivos, especialmente) declaração de jornalistas dizendo-se preocupados com esta Copa do Mundo na África do Sul, devido a tais acontecimentos.
Bom, à exceção do atentado que extinguiu as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001 (afinal, num evento dessa dimensão, se não houvesse comoção e preocupação por parte de todos, seria melhor fechar o boteco e jogar a chave fora), não lembro de nenhuma manifestação na mídia de algum jornalista preocupado com viagens de brasileiros para os Estados Unidos quando algum psicopata invade um shopping matando quem estiver pela frente ou quando algum adolescente invade sua própria escola e mata vários de seus colegas.
Falando através da internet com meu amigo Dudah Oliveira, Sociólogo e Ogã de Candomblé, ele mostrou-me que a distância entre a Cabinda, onde ocorreram os atentados e a Cidade do Cabo, capital do país que sediará a próxima Copa do Mundo, ultrapassa 3.000 km.
Ora, senhoras e senhores. nós brasileiros, por um acaso, gostamos quando um gringo chega aqui falando espanhol? Que mal há em acharem que nossa capital é Buenos Aires, afinal, é tudo América do Sul, não é mesmo?
Imaginemos que, após algum atentado na Guatemala, em El Salvador ou no México, algum jornalista europeu manifeste-se preocupado com a realização da Copa do Mundo no Brasil ou das Olimpíadas no Rio.
Congo, Angola e Namíbia separam Cabinda da África do Sul. Mas, então, se estes países estão tão distantes (apesar de estarem no mesmo continente), por que há esta preocupação por parte de algumas pessoas com relação à Copa do Mundo? Ficariam indignadas estas pessoas se algum norte-americano ou europeu manifestasse preocupação na situação que mencionei anteriormente? Com certeza, ficariam.
Mas, então, o que diferencia o Brasil do México ou dos países da América Central que não diferencia países tão distantes como a África do Sul e Cabinda?
Hum... deixe-me pensar.... Ah, já sei, deve ser por que lá são todos pretos!
SARAVÁ!!!!
sábado, 9 de janeiro de 2010
TRAFICANTES INVADEM ILÊ AXÉ OPÓ AFONJÁ NA BAHIA
Os espaços sagrados dos terreiros de candomblé não estão mais imunes à violência. A força dos orixás não conseguiu impedir que, na área de mata atlântica dentro do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, de Mãe Stella de Oxóssi, no São Gonçalo do Retiro, criminosos montassem uma cabana para servir de quartel para venda e distribuição de drogas na Baixinha de Santo Antônio. O espaço físico da cabana em meio a árvores e plantas sagradas, montado com mesa de tampo de vidro, cadeiras, balança de precisão e sofás, foi destruído pela polícia há quatro meses. Contudo, segundo o delegado Adailton Adam, titular da 11 ª Delegacia (Tancredo Neves), responsável pela área, o ambiente ainda continua sendo usado pelos traficantes. "Eles permanecem entrando na área do terreiro através do muro que está sendo construído para embalar e distribuir drogas e dividir roubos", conta. InsegurançaOs usuários de crack, maconha e cocaína ameaçam os templos e moradias dos filhos-de-santo. Os frequentadores do terreiro contam que, no último ano, têm sido constantes os arrombamentos aos cerca de 130 imóveis existentes na área de 39 mil metros quadrados do terreiro, que foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Somente na última semana, foram invadidas as casas dedicadas a Iemanjá, Oxalá e Oxum. Nos imóveis erguidos para Iansã, Ogum e Omolu, foram arrancadas as inscrições com os nomes dos orixás, feitas de bronze. Já na última quarta-feira de dezembro, foi levado o cofre com oferendas depositadas por fiéis para Xangô. No mesmo dia, os ladrões invadiram a casa de Oxalá, de onde levaram um botijão de gás, depois de entrar pela janela e arrombar 28 portas dos filhos-de-santo. "Moram cerca de cem famílias na área do terreiro. Os ladrões costumam entrar na casa quando ela está vazia, levam dinheiro, bagunçam tudo. Nas casas dos orixás, eles se aproveitam quando não tem ninguém", conta o presidente do Conselho Civil da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, Ribamar Daniel, que frequenta o terreiro há 20 anos. Ele contou ainda que o conselho do terreiro decidiu encaminhar ofícios aos Ministérios Públicos Federal, Estadual e Iphan, solicitando apoio e proteção ao terreiro. DesrespeitoAlém dos roubos, os usuários de drogas fazem das varandas dos imóveis dedicados aos orixás "rodas" para fumar maconha e fazer sexo. "Canso de ver gente fumando e transando aqui, na frente da casa de Oxóssi", indigna-se um ogã que há 51 anos mora no terreiro. A líder religiosa do terreiro, Mãe Stella, não acredita que as ações violentas contra o Ilê Axé Opô Afonjá estejam relacionadas com intolerância religiosa. "Isso é coisa de jovens levados pelo tráfico de drogas. Eles têm falta de amor próprio, só assim podem ter coragem de profanar um local sagrado. Não se consideram como gente", reclamou. Muro da discórdiaA área do terreiro, segundo o delegado, está encravada em um bolsão de tráfico de drogas. "Isso facilita que os bandidos invadam o terreno. Os fundos são colados na invasão Baixinha do Santo Antônio, um dos cinco pontos mais perigosos da área ".. Os outros quatro, segundo o delegado, são o Arenoso, Buracão, Suvaco da Cobra e Rua do Canal. Nos últimos meses, a direção do terreiro, em parceria com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), resolveu construir um muro de concreto para separar o terreiro da invasão. O muro está sendo construído no limite da quadra de esportes, que não é usada pelo terreiro. Traficantes, porém, já mandaram avisar que vão derrubar o muro. "A ocupação desordenada tirou espaço do terreiro, que antes chegava até a BR-324. Hoje, a construção do muro é necessária para proteção. Nosso espaço precisa ficar separado", disse Mãe Stella, que este ano comanda a festa em comemoração ao centenário do terreiro. O delegado destacou que o terreiro deve promover o isolamento. "Indiquei que a administração do terreiro acabe com a quadra e plante mais árvores no local. Isso vai dificultar o uso do espaço para o crime", analisou.Na madrugada de domingo, bandidos arrombaram o depósito da Conder, onde roubaram carro de mão, picaretas e vigas de ferro. Os operários que trabalham na construção contam que recebem constantes ameaças. "Ficarmos cercados é um retrocesso da nossa religião, que tanto lutou pela liberdade de culto. No passado, convivemos muito com a intolerância, até da própria polícia. Mas nesse momento, o muro é a melhor opção", completou a religiosa. A área próxima ao muro é um campo minado, cheio de informantes. Ao perceber a chegada de estranhos, os assobios de aviso aparecem rapidamente. Em menos de um minuto, já surgem pessoas circulandonoaltodas casasao lado do muro. "Eles temem que sejam a polícia", avalia um membro do terreiro. Pouca proteçãoNos fundos das casas de santo, a área de matagal é o esconderijo predileto dos assaltantes, usuários e traficantes de drogas. Para todo o terreno, entre mata e residências, há apenas um segurança, desarmado, da empresa GPS Vigilância. Além de percorrer o terreno, o segurança ainda tem que fazer, às vezes, de porteiro. O delegado indica que, por ser uma área privada, a responsabilidade de manter a segurança é do terreiro. Contudo, como há vigilância particular, os funcionários serão ouvidos para prestar esclarecimentos sobre os furtos. "O valor de manutenção da guarita com o segurança é pago, desde 2008, por um frequentador do terreiro. Isso foi preciso depois que roubaram 200 cadeiras do barracão", explica Ribamar. Além disso, a PM faz rondas na área do terreiro, quando chamada. InvestigaçõesNa quarta-feira (7) pela manhã, o desempregado Marcos Conceição Evangelista, 27 anos, morador do São Gonçalo, foi detido para averiguação por policiais da 11ª Delegacia sob a acusação de integrar o grupo que vem assaltando o terreiro de Mãe Stella. "Pelo menos 60 botijões foram roubados nos últimos meses. Testemunhas reconheceram o Marcos, que agiria com outro jovem, de nome Flávio", disse o delegado. Terreiro é destruído a marretadas e bombas Bombas, marretas e metralhadoras foram usadas para colocar no chão um terreiro de candomblé na invasão Babilônia, no bairro de Tancredo Neves. A demolição, promovida por traficantes da região em 20 de dezembro do mês passado, ocorreu quatro dias após o pai-de-santo do terreiro, José dos Santos Bispo, 43 , conhecido com pai Santinho, ser assassinado a tiros em sua casa, que ficava no mesmo prédio do terreiro. No dia da derrubada do imóvel, os foguetes anunciaram a festa em frente aos restos do templo. O afilhado do pai Santinho, zelador-de-santo Eraldo Silva, conta que filhos-de-santo foram expulsos do local pelos traficantes. . "Ogãs receberam ordem para sair e não pisar mais na Babilônia. Tudo foi destruído. Até uma bomba jogaram na casa de Exu. Foi o maior desrespeito a nossa religião. Os traficantes botam todo mundo para correr de lá", disse Silva, que possui um terreiro em Valéria. Pai Santinho, que chegou a morar na Itália e era travesti, foi encontrado com marcas de tiros no banheiro de sua casa. O religioso foi morto, em 16 de dezembro de 2009, após ter denunciado que um de seus filhos-de-santo havia sido assassinado. O delegado Adailton Adam, titular da 11ª Delegacia, unidade responsável pelo caso, esclarece que ainda não é possível afirmar que essa tenha sido a motivação do crime. "Pelas investigações identificamos que três traficantes (Sassá Cebola, Bahia e Budé) cometeram o homicídio, mas eles estão foragidos. Só quando prendermos será possível saber a motivação". Os assaltos ao terreiro de Mãe Stella, e a demolição do de pai Santinho, em Tancredo Neves, segundo o delegado Adailton, não são as principais ocorrências da área. " São 27 homicídios por mês na região. As ruas são estreitas e o tráfico de drogas é muito pulverizado ". Violência ameaça papel socialMariana RiosJá não bastam defesa e proteção dos orixás. Muros precisam ser erguidos e até segurança privada evocada. Após anos de perseguição policial e até exigência de uma licença - abolida em 1970 pelo governador Roberto Santos - os terreiros de candomblé vêm conhecendo um novo lado perverso, estimulado, segundo historiadores, pela violência e intolerância religiosa. "Há uma mudança de atitude em curso. Há dez anos, não se roubava nem baiana de acarajé, por medo de maldição e dos orixás", explicou o historiador e diretor geral da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan Castro. Segundo Castro, aos poucos está se perdendo "o caráter de aldeia de bom coração", atribuído aos terreiros. "Não vai dar para manter as portas abertas à comunidade. É um sofrimento esse endurecimento das relações", disse o historiador, que cita o Parque São Bartolomeu, no subúrbio ferroviário, como exemplo de área perdida para o crime. Para o pesquisador, historiador e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Jaime Sodré, a agressão ao terreiro de Mãe Stella é um ato de barbárie. "Foi um gesto absurdo de primatização, de retorno ao primitivo. Cabe à polícia dar uma resposta aos orixás". Líderes do candomblé ficam indignados com ataques a terreiro Os ataques a um dos terreiros mais populares do país causaram indignação a líderes religiosos do candomblé de Salvador. Ialorixá do Terreiro Gantois, no bairro da Federação, mãe Carmem de Oxalá desabafa: "É uma falta de respeito pela fé, pelo ser humano e ao patrimônio da humanidade". A revolta é compartilhada também por mãe Índia, do Terreiro de Bogum, no Engenho Velho da Federação. "Nunca tivemos problemas com eles (bandidos), mas não estamos livres de um ataque.. Sinto por Mãe Stella, ialorixá respeitadíssima no Brasil", disse. Para o pai-de-santo Anselmo Santos, o Tata Dya Nkis do Terreiro Mokambo, na Vila Dois de Julho, a humanidade está desamando. "As pessoas estão matando por um par de tênis. Não estão valorizando a vida, uma dádiva de Deus". Federação de culto afro pede a Wagner apuração rápida A Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro (Fenacab) encaminhou ao governador Jaques Wagner um documento solicitando providências em relação aos ataques e à violação do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. "Pedimos mais segurança e uma apuração rápida para este crime", explicou o presidente da Fenacab, Aristides Mascarenhas.Núcleo da PM orienta terreiros Criado em 2005, o Núcleo de Religiões de Matriz Africana da PM da Bahia (Nafro-BA) orienta pais e mães-de-santo sobre como agir em casos de invasão dos espaços sagrados. Também faz a aproximação entre os comandantes da PM e os terreiros. "Nesta quarta-feira (6), recebemos a denúncia de um terreiro no Jardim Santo Inácio que foi invadido. O babalorixá prestou queixa na 10ª Delegacia e procurou o Ministério Público", contou o coordenador geral , sargento Eurico Alcântara. Para receber orientação basta ligar para o telefone do Nafro.
Endereço: Travessa D`Ajuda, Edf. Sulamérica, sala 303, Centro. Tels: (71) 3321-7859 (Notícia publicada na edição impressa do dia 7 de janeiro de 2010)